Sexta, 15 de Agosto de 2025
Uma exposição fotográfica impactante está em cartaz no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, revelando o efeito devastador dos eventos climáticos extremos na vida de refugiados. A mostra, intitulada "Perder Tudo. Novamente", apresenta histórias reais de pessoas que, após fugirem de guerras e perseguições, enfrentam novas tragédias ambientais.
A exposição é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), em parceria com a concessionária do aeroporto, Aena. As imagens retratam a dura realidade de quem já perdeu tudo e, ao buscar refúgio, se vê novamente ameaçado por enchentes, secas e terremotos.
Samantha Federici, chefe do escritório de Parcerias com o Setor Privado do Acnur no Brasil, destaca que a crise climática é uma crise humana, que afeta desproporcionalmente os mais vulneráveis. A exposição convida o público a refletir sobre a necessidade urgente de proteger aqueles que, mesmo após recomeçar, perdem tudo mais uma vez.
Em entrevista à Agência Brasil, Samantha Federici ressaltou que as mudanças climáticas têm agravado as vulnerabilidades já existentes e gerado novos deslocamentos forçados.
“Milhões de pessoas são obrigadas a deixar suas casas por causa de eventos climáticos extremos — como inundações, secas e ondas de calor — ou enfrentam esses impactos depois de já terem fugido de conflitos e perseguições. Estima-se que nos últimos dez anos, desastres relacionados ao clima causaram 220 milhões de deslocamentos internos. Para refugiados, muitas vezes vivendo sem habitação segura, renda estável ou serviços essenciais, um desastre climático pode significar um ‘segundo’ ou ‘terceiro deslocamento’, interrompendo novamente suas vidas e destruindo o que haviam reconstruído”.
Dados do Acnur revelam que essa realidade já se manifesta no Brasil. No ano passado, as enchentes no Rio Grande do Sul impactaram 2,4 milhões de pessoas, incluindo pelo menos 43 mil refugiados e solicitantes de refúgio, principalmente da Venezuela e do Haiti. “O Brasil é cada vez mais afetado por eventos climáticos extremos”, disse Samantha. “Muitos [refugiados] já enfrentavam dificuldades para se estabelecer no Brasil e, com as chuvas, perderam novamente moradia, bens e documentos”.
A representante do Acnur defende a inclusão de refugiados e deslocados em políticas de prevenção, adaptação e resposta climática, visando minimizar os impactos das emergências climáticas. Isso implica investir em moradias seguras, sistemas de alerta, infraestrutura resiliente e garantir acesso a recursos essenciais. Ela também enfatiza a necessidade de ampliar o financiamento climático global para alcançar as pessoas mais afetadas.
A exposição estará em cartaz até 15 de setembro no Aeroporto de Congonhas. Segundo Samantha, a escolha do aeroporto como local da mostra é estratégica: “Aeroportos são lugares de partidas e recomeços — um símbolo direto da jornada de quem é forçado a deixar tudo para trás. Instalar essa exposição no Aeroporto de Congonhas, um dos mais movimentados do Brasil, amplia a visibilidade dessas histórias e convida milhares de pessoas a refletirem sobre a conexão entre deslocamento forçado e mudanças climáticas”. Ela acrescenta que, às vésperas da COP 30, a exposição é uma oportunidade de lembrar que, por trás das estatísticas sobre a crise climática, existem vidas reais, com nomes, rostos e trajetórias de coragem.