Segunda, 11 de Agosto de 2025
O Grupo Nós do Morro, escola de teatro atuante na comunidade do Vidigal, zona sul do Rio de Janeiro, apresenta a Leitura Dramatizada da 'Ópera do Malandro', de Chico Buarque, com direção de Paulo Guidelly. As apresentações gratuitas acontecem no Casarão do Nós do Morro, Rua Doutor Olinto de Magalhães, 54, neste sábado (9) e domingo (10), às 10h. Os ingressos devem ser retirados uma hora antes do espetáculo.
Antes de 'Ópera do Malandro', o público assistiu a leituras de 'O Pequeno Príncipe Preto', 'A Revolução na América do Sul' e 'Hoje é Dia de Rock'.
“Muitas pessoas que querem ser atores atualmente desconhecem textos clássicos de dramaturgos teatrais como Shakespeare ou autores gregos. A gente sentiu essa defasagem nos novos atores e resolveu trabalhar com cada turma os textos clássicos ou de autores brasileiros”, contou Paulo Guidelly.
Segundo o diretor, as leituras dramatizadas servem como preparação para as encenações completas que o grupo apresentará no fim do ano.
“A leitura dramatizada é um primeiro ciclo da prática de montagem que a gente vai desenvolver no fim do ano, em novembro. A gente vai fazer as mesmas peças, mas com a encenação de fato. É por isso que a gente desenvolveu essa leitura como se fosse uma pré cena mesmo. Tem as movimentações no palco, a gente trabalha com iluminação, com parte do cenário. A gente cria uma encenação. Os atores estão se movimentando com o texto na mão já criando a cena.”
Paulo Guidelly, ex-aluno do Nós do Morro, destaca a importância do grupo em sua formação pessoal e profissional, incluindo seus estudos na Unirio.
O Nós do Morro, com quase 40 anos de história, é reconhecido por formar público e revelar talentos.
“A recepção de todo esse público local é muito bacana, mas a gente também tem uma galera do asfalto que vai ao Nós do Morro para assistir. É muito democrático e todo mundo consegue apreciar de uma maneira muito bacana todas as obras apresentadas lá no Casarão”, observou.
Desde sua criação em 1996, o Grupo Nós do Morro tem transformado a vida de crianças e jovens do Vidigal, lançando nomes como Thiago Martins, Babu Santana e Sheron Menezzes.
“O Nós do Morro e todas as pessoas que entraram lá e ingressaram no mercado viraram referência. Além de terem orgulho das pessoas que saíram ou estão lá ainda, as pessoas também veem como uma possibilidade não só de serem atores, mas de transformação de suas vidas. Que é possível sonhar, crescer, se desenvolver e fazer o que gosta e ama”.
Guti Fraga, um dos fundadores do grupo, relembra o início do projeto e sua forte ligação com o Vidigal.
A primeira peça, 'Encontros', retratava o cotidiano da comunidade.
O grupo também se apresentou internacionalmente, como na Royal Shakespeare Company na Inglaterra.
Guti Fraga também fundou a Casa do Nós em Saquarema, levando o teatro e a arte para outra comunidade.
“É um teatrinho, mas é lindo. Já tivemos momentos importantes... O teatro tem esse poder. Eu sempre digo ‘nuca abra mão dos seus sonhos. O homem sem sonhos é como um pássaro de asa quebrada”, explicou emocionado.
A Mostra de Leitura Dramatizada é financiada pelo Projeto Arte que educa e transforma, com recursos de emenda parlamentar e apoio da Funarte.
“Nós não cobramos nada, nem para fazer aulas, nem para assistir aos espetáculos, então tudo é custeado a partir de editais que proporcionam isso”, contou Marcello Melo, diretor executivo do Nós do Morro.
Marcello Melo destaca a importância do apoio financeiro para a manutenção das atividades do grupo, que quase fechou durante a pandemia.
Tatiana Delfina, gestora do projeto, busca constantemente parcerias com instituições como Unesco e Disney.
“Uma das iniciativas mais potentes foi a parceria com a Disney, em que oferecemos oficinas de edição, roteiro, direção de arte, maquiagem e caracterização. Essa experiência abriu portas reais para nossos alunos...”.
Atualmente, a escola oferece aulas para diversas turmas, incluindo uma para pessoas neurotípicas.
“Imagina quantos neurotípicos moram nesta comunidade e estavam silenciados e invisíveis? Abrir os olhos para este fato para a gente tem sido muito satisfatório tê-los lá. Os alunos são do Vidigal e alguns da Rocinha [comunidade próxima]”.